de Carl Frey e Michael Osborne, setembro de 2013 [fn star]Texto traduzido por João Lourenço. Revisado por Leo Arruda. O original pode ser lido aqui.[/fn]
Ainda que as pessoas tenham se preocupado com a habilidade da tecnologia substituir trabalhadores humanos por centenas de anos, recentes avanços na tecnologia de computação implicam que profissões inteiras podem se tornar obsoletas. Num estudo de 700 profissões nos EUA, Carl Frey e Michael Osborne descobriram que quase 50 por cento estão sob a ameaça de serem computadorizadas. Eles argumentam que a próxima geração de computadores alimentados com Big Data irá substituir trabalhadores de baixa renda e baixa qualificação nas próximas décadas, e que trabalhadores de baixa qualificação precisarão de treinamento em tarefas menos suscetíveis a computadorização para permanecerem com trabalho.
Computadores já estão presentes em algumas industrias por décadas, mas uma nova onda de desenvolvimento tecnológico irá ameaçar profissões antes vistas como resistentes a computadorização. A preocupação de que a tecnologia pode levar ao desemprego não é nova. Já em 1589, William Lee, o inventor da máquina de tear automática, foi expulso da Inglaterra por associações temerosas pelos empregos de seus membros.
Até o momento, a preocupação com o desemprego tecnológico não se materializou. Em 1900, mais de 40 por cento da força de trabalho Estadunidense estava empregada na agricultura, mas conforme a tecnologia substituiu quase todos os trabalhadores agrícolas (hoje menos de 2 por cento da força de trabalho dos EUA), a taxa de desemprego tem permanecido relativamente constante. Como um todo, durante os séculos XIX e XX o impacto total da tecnologia no mercado de trabalho tem sido positivo. No entanto, comentadores ainda acham motivos para se preocuparem. Em “ Como a tecnologia destrói a classe média“, uma recente coluna do New York Times por David Autor e David Dorn, captura uma observação feita por vários comentadores: a tecnologia se voltou para o trabalho.
Recentemente, empregos de baixa renda tem se expandido rapidamente ao custo da manufatura de média renda e trabalhos ligados a produção. Existem muito mais trabalhadores na área de limpeza, preparadores de comida e carregadores de bagagem, enquanto que a taxa de crescimento desacelerou para profissões tais como operadores de usinas e modelistas de tecido. Ao mesmo tempo, computadores aumentaram a produtividade de trabalhadores de alta renda, tais como administradores profissionais, engenheiros e consultores. O resultado tem sido um mercado de trabalho polarizado com uma desigualdade de salários crescente. Marten Goos e Alan Manning descobriram que o crescimento de trabalhos na Grã-Bretanha tem sido nestes extremos, implicando um envaziamento da classe média.
Desde o começo da revolução computacional, a ameaça de computadorização esteve largamente confinada a tarefas rotineiras de manufatura envolvendo atividades que seguiam regras explícitas. Mas um estudo detalhado de 700 profissões nos EUA sugere que quase 50 por cento estão sob uma ameaça que antes só assombrava uma pequena proporção de trabalhadores. A probabilidade de uma ocupação ser vulnerável a computadorização é baseado nos tipos de tarefas que estes trabalhadores realizam e nos obstáculos de engenharia que atualmente impedem computadores, ou equipamentos controlados por computadores, de tomar essa ocupação. A Figura 1 mostra a probabilidade de computadorização por categoria ocupacional.
A principal razão para a automação ser um risco para tantas profissões é simples: como os custos da computação continuam a cair, computadores vem crescentemente sendo vistos como alternativas mais baratas a trabalhadores humanos. O declínio associado nos custos de sensoriamento digital está ligado ao crescimento da Big Data: agora é mais barato e mais eficaz juntar grandes conjuntos de dados retirados de sensores automáticos. A Big Data consequentemente leva ao desenvolvimento de tecnologias capazes de substituir trabalhadores humanos onde tais dados podem ser coletados. Por exemplo, o Google usa dados das Nações Unidas, onde documentos devem ser traduzidos por experts em seis línguas, para monitorar e informar o desenvolvimento de tradutores automatizados.
Com o sensoriamento melhorado disponível para robôs, pela primeira vez, trabalhos no transporte e logística estão sob risco. Considere o carro sem motorista sendo desenvolvido pelo Google. Essa nova tecnologia pode levar trabalhadores tais como o caminhoneiro de longa distância a ser substituído por maquinas.
Trabalhadores em funções de suporte administrativo não estão imunes. A habilidade de computadores, equipados com novos algoritmos de reconhecimento de padrões, de rapidamente varrer grandes pilhas de documentos ameaçam até profissões tais como assistentes jurídicos e advogados de patentes, que estão, de fato, sendo rapidamente automatizadas.
Surpreendentemente, a maior parte das profissões de vendas e serviços, de atendentes de fast-food a digitadores, área onde a maior parte do crescimento de emprego aconteceu nas últimas décadas, também estão dentre as categorias de risco. O mercado para robôs de serviço pessoais e domésticos já esta crescendo a 20 por cento por ano. Enquanto a vantagem relativa em ocupações envolvendo mobilidade e destreza diminui, a rapidez da substituição de ocupações de profissões na área de serviços irá provavelmente aumentar ainda mais.
A era da Big Data marca um ponto de inflexão. Tecnologias de manufatura do século XIX largamente substituíram artesões habilidosos ao simplificar as tarefas envolvidas. A revolução da computação do século XX, por outro lado, causou um esvaziamento da classe média. Olhando para frente, a próxima geração de computadores alimentados com Big Data irá principalmente substituir trabalhadores de baixa renda e baixa qualificação nas próximas décadas. Se um computador pode dirigir melhor que você, responder a solicitações tão bem quanto você e localização informação melhor que você, quais tarefas serão deixadas intactas?
Trabalhos com baixo risco de computadorização são geralmente aqueles que requerem inteligência social no nível humano e ocupações de especialistas envolvendo o desenvolvimento de novas ideias e artefatos. A maior parte das ocupações administrativas, que são intensamente tarefas generalistas requisitando inteligência social, ainda estão dentre as categorias de baixo risco. O mesmo é verdade sobre a maioria das ocupações em educação e saúde, assim como trabalhos em arte e mídia. Engenharia e ciência são também relativamente imunes a automação, principalmente pelo alto grau de criatividade e inteligência requeridos.
Instalação, manutenção e conserto estão sob algum risco de automação, mas ainda estão seguros no futuro imediato. Estes trabalhos e similares requerem trabalhar em ambientes desestruturados e difíceis, as máquinas ainda tem dificuldades em tarefas perceptivas relativamente fáceis para humanos. Por essa razão, empregados domésticos, que devem delicadamente manipular uma variedade de objetos, são também improváveis de serem automatizados no futuro próximo.
Isso significa que conforme a tecnologia avançar, trabalhadores de baixa qualificação terão de treinar em tarefas que são menos suscetíveis a computadorização – isto é, tarefas que requerem criatividade e inteligência social, ou que são suscetíveis a percepção. De outro modo, uma era de desemprego tecnológico é completamente possível.